segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cacto sem espinhos, pero no mucho.

Caminhando pela 203 Norte, me chamaram a atenção as belíssimas (e estranhas) flores de um cacto que depois fiquei sabendo que se tratava de um (ou uma) "urumbeta" (Nopalea cochenillifera).



O livro que consultei (Plantas Ornamentais no Brasil, de Herri Lorenzi e Moreira de Souza) informa que o cacto é originário do México. Lá ele é cultivado para a criação de cochonilhas, das quais é extraído um corante utilizado para colorir tecidos. Isso explica o nome científico da espécie (cochenillifera). O livro informa também que o caule do cacto é coberto por pequenos espinhos, algo que eu descobri na prática, de uma forma um pouco dolorosa. Depois de segurar no caule (palma ou cladódio) do cacto para tirar uma foto da flor, descobri que meus dedos estavam cheios de minúsculos espinhos, quase trasparentes de tão finos, mas que penetram na pele com uma facilidade impressionante e, como são muito pequenos e frágeis, fica difícil tirar com a unha (a única pinça que eu dispunha na hora). O que explica também outro (enganoso) nome da planta: cardo-sem-espinhos.

Consultando a Wikipedia, fico sabendo que este cacto, além de compor jardins, é usado como cerca viva, e serve também para alimentar o gado e a espécie humana. No Brasil, é muito comum no Nordeste. A mencionada cochonilha que dá nome à espécie se chama, cientificamente, Dactylopius coccus. Para se defender da predação por outros insetos, ela produz o chamado ácido carmínico. O corante elaborado a partir do ácido cármico ("Corante natural carmim de Cochonilha", C.I. 75470 ou E120), serve não apenas para corar tecidos, mas também cosméticos e alimentos (biscoitos, geléias).

A informação abaixo transcrita sobre a história do carmim me impressionou:

"O corante cochonilha é conhecido e utilizado desde as civilizações asteca e maia. A História relata que onze cidades conquistadas por Montezuma no século XV pagaram-lhe um tributo em forma de dois mil cobertores de algodão e quarenta sacos de corante cada. Durante o período colonial mexicano a produção do corante cochonilha (conhecido por grana fina) cresceu rapidamente. Produzido quase exclusivamente em Oaxaca, por produtores indígenas, a cochonilha se tornou o segundo produto em valor exportado do México, superado apenas pela prata. O corante era consumido em larga escala na Europa e seu valor era tão alto no mercado industrial que seu preço chegou a ser negociado na Bolsa de Mercadorias de Londres e Amsterdam.

Após a Guerra da Independência do México, entre 1810–1821, o monopólio da produção de cochonilha chegou ao fim. Produções em larga escala começaram a ser feitas na Guatemala e nas Ilhas Canárias. A demanda por cochonilha diminuiu ainda mais quando surgiu no mercado a alizarina, derivada das raízes da garança (Rubia tinctorum), em 1869 e durante o resto do século XIX com os corantes sintéticos. Isto representou um grande choque para a Espanha, já que que diversas fábricas produtoras de corante cochonilha faliram por não conseguirem competir com seu processo praticamente artesanal de cultivo do inseto face à escala industrial dos corantes sintéticos com seus preços em queda devido ao aumento na produção.

Devido à forte concorrência dos produtos industrializados a produção deste corante praticamente parou durante o século XX e foi mantida apenas com o propósito de manter a tradição indígena mexicana.

Apenas nos últimos anos a cochonilha voltou a ser comercialmente viável. [...] Uma das razões que trouxeram o corante cochonilha de volta ao mercado é o fato de que ele não é tóxico ou cancerígeno como muitos outros corantes vermelhos artificiais. No entanto, há evidências de que um pequeno número de pessoas quando exposta [ao corante] possa ter uma reação de choque anafilático."

Mais uma vez, ao passar por uma planta, não podia imaginar que ela pudesse carregar tanto significado. Ao passar por ela novamente vou enchergar muito mais do que um simples cacto com uma bela flor (o que já seria bastante). Minhas caminhadas serão muito mais ricas, com mais significados e, consequentemente, mais prazerosas. O ato de comer um biscoito com "corante natural carmim de cochonilha" também terá um "sabor" diferente.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A folha-moeda (Chamaecrista orbiculata) e as flores artesanais

Tão interessante quanto encontrar e observar uma nova flor ou planta é depois descobrir o seu nome e as informações sobre ela. Já havia visto muitas vezes flores artesanais como as da foto abaixo.



Quando encontrei esta planta, em uma minuscula área de cerrado no meio da área urbana, não imaginava que estava diante da fonte da matéria prima para a fabricação dessas flores. Ela se chama moeda ou folha-moeda (Chamaecrista orbiculata), por razões óbvias. A folha, redonda, como uma grande moeda, chama a atenção.



No Correio Braziliense encontrei uma interessante matéria sobre o artesanato com plantas e flores secas do cerrado, onde se faz uma especial menção à folha-moeda. Transcrevo parte da matéria:

"Há uma espécie que quase já não se vê nas proximidades da área urbana do DF. É a folha-moeda (Chamaecrista orbiculata, nativa de cerrado com formações rochosas). Depois de passar por fervura em soda cáustica e clareamento com cloro, ela perde a clorofila e, ao secar, se transforma num esqueleto de folha. Banhada em ouro, vira joia. Mas os artesãos da Catedral e da Torre fazem das folhas esqueletizadas flores coloridas. São as mais procuradas. [...]

As folhas-moeda são as [flores artesanais] que dão mais trabalho. No dia seguinte à colheita, dona Maria tira-as dos galhos e junta-as num tonel cheio de água ao qual foi adicionada pequena porção de soda cáustica. A mistura vai ao fogo por mais de duas horas, período em que a planta começa a perder a clorofila. Em seguida, as folhas são fartamente enxaguadas e voltam para o tonel, desta vez temperado com cloro. É ele quem vai alvejar a folha. Por último, vão para a secagem. Daí então podem ser tingidas e estão prontas para serem transformadas em rosas, brincos, porta-guardanapos, arranjos de mesa, bordados. Com elas já se faz até colcha de cama." (http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/08/16/cidades,i=135332/ARTESAOS+DAO+VIDA+AS+FLORES+SECAS+DO+CERRADO.shtml

A matéria diz que a folha-moeda ocorre em cerrado com formações rochosas. De fato, a área onde eu a encontrei é uma formação rochosa, com rochas aparentes. Com certeza, foi por isso que ela não foi destruída pelas máquinas que "limparam" a região para formação dos condomínios que existem ali.

sábado, 15 de maio de 2010

A Natureza dentro de casa II

Da janela do apartamento, um beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura). A foto é ruim mas serve de registro.


"Um dos beija-flores mais comuns de Brasília, reconhecível de imediato pelo longo rabo azul escuro, em forma de tesoura. Ocorre nos cerrados, bordas de matas ciliares, jardins das casas e quadras das cidades. Disputa agressivamente o acesso às flores e às garrafinhas de beija-flor com qualquer outra ave. Por ser maior do que as outras espécies comuns, geralmente vence estes confrontos. Antes de atacar, emite um chamado característico, anunciando sua presença. É fácil de se fotografar ou filmar. A reprodução estende-se de outubro a maio. Nessa época, emite um chamado matinal muito diferente, baixo e contínuo, que não lembra o de um beija-flor. Canta pousado em galhos próximos do chão, em áreas abertas. Constrói um ninho espesso, forrado de paina amarela, sobre um galho fino de árvore ou arbusto e em locais relativamente expostos. Não teme a presença humana, faz o ninho em jardins, estacionamentos ou em áreas de cerrado. Põe geralmente dois ovos brancos. O filhote sai do ninho com a cabeça e as costas amarronzadas, além da cauda curta." (Antas, P.T.Z et al. Aves Comuns do Planalto Central. UnB, 2009)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Natureza dentro de casa

Muitas vezes, não é preciso nem sair de casa para apreciar algumas das "maravilhas" da natureza. Nossas casas e apartamentos são armadilhas para muitos insetos. Outro dia, saindo de casa no final da tarde, encontrei a borboleta abaixo, pousada na coluna da garagem.



E na manhã seguinte avistei a folha abaixo, junto do rodapé da parede. Imagine essa borboleta no meio de folhas secas.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Periquito ladrão de nectar das Paineiras

Ao me aproximar de uma paineira alta e florida notei que no chão haviam muitas flores novas, quando esperava encontrar muitas flores já velhas e murchas. Curiosamente, a base das flores estava comida, e flores novas, mesmo sem vento, continuavam caindo da árvore, em número considerável. No alto da copa, a explicação: uma bando de periquitos (Brotogeris versicolorus) estava se alimentando das flores da paineira. O periquito segura e arranca a flor com a pata, "morde" a base e a joga-a fora. Ele faz isso, com certeza, para se alimentar do nectar da flor.



O nectar atrai abelhas e outros insetos que, em busca de alimento, contribuem, involuntariamente, para a polinização da flor (e a consequente produção de frutos, sementes e eventual reprodução da planta mãe). O periquito, no entanto, "rouba" o nectar sem contribuir para a polinização e a reprodução. Não apenas bica a flor como arranca-a e joga-a fora. Isso não é bom, claro, para as paineiras, mas é importante para os periquitos que, nessa época do ano, parecem encontrar nessa espécie uma fonte abundande de alimento. E, no final das contas, é tanta flor que o prejuízo causado pelos periquitos é pequeno. Não é à-toa que as paineiras produzem tantas flores.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

As Paineiras e as Mamangavas


A foto sugere que a mamangava desempenha um papel importante na polinização das Paineiras. Note-se o abdomem da mamangava repleto de pólem e a sincronia entre o tamanho da abelha eo tamanho dos estames e do pistilo.

Mamangava é o nome mais utilizado e vem da língua tupi (mamã´gab) mas também é chamada de abelhão ou vespa-de-rodeio pois demora para pousar nas flores, fica rodeando... (http://www.meliponariodosertao.com/2009/05/abelha-mamangava.html)

As mamangavas são abelhas solitárias ou sociais de tamanho grande e bastante peludas. Pertencem a várias famílias e os gêneros mais comuns são Bombus, Eulaema, Centris, Xylocopa e Epicharis. A maioria é preta e amarela e quando voam emitem um zumbido alto. As mamangavas são polinizadores importantes e contribuem para a manutenção de muitas espécies nativas.

As mamangavas reramente picam, a não ser que as seguremos com as mãos. Apesar de serem grandes são extremamente dóceis.

Seus ninhos são encontrados no solo ou em ocos de árvores. (http://www.pragas.com.br/pragas/geral/mamangava.php)